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Arquitetura dos Sonhos | O Olhar para o Futuro

29.01.2019

Por Nathane Durso
Arquiteta Coordenadora

 

 

Quando se fala em arquitetura, o que vem a sua mente? Qual a sua importância para o indivíduo e para a cidade?

Se formos estudar lá atrás as antigas civilizações temos registros importantes da arquitetura, mas o que a define de fato?

 

Qual o valor da arquitetura para o ser humano e para seu tempo histórico? Estas são questões para refletir sobre por que ter um projeto de arquitetura.

 

A arquitetura tem como papel não somente abrigar, mas documentar a visão de mundo de cada povo em um dado momento histórico. Esta é uma definição universal, e a percebemos em nossa própria cidade quando nos deparamos com construções de diversos estilos, carregadas de memória de acordo com sua idade, beleza e singularidade.

 

 

      A palavra arquitetura é de origem grega “ARKHITEKTON” (ἀρχιτέκτων) que significa mestre-de-obras, o que faz muito sentido já que uma ideia é conduzida e orientada até a sua materialização, porém se formos mais a fundo podemos dividi-la em outros dois termos “ARCHÉ ou ARQUÉ” (ἀρχή) que significa “princípio universal de todas as coisas” e “TEKTON” (τέκτων) que significa carpinteiro. O que a arquitetura significa simbolicamente é a técnica que busca se aproximar ou revelar o princípio universal de todas as coisas, o que está diretamente relacionado com a concepção da natureza, portanto se espera que ela exprima ordem, harmonia e beleza.
 
      Porque uma arquitetura bela nos traz tanto bem-estar? Porque a beleza é um valor intrínseco do ser humano e por isso nos aproxima de algo que nos unifica, ou seja, nos remete a uma essência.
Então, se a arquitetura registra a visão da coletividade sobre o seu momento histórico, é válido fazer uma reflexão sobre a arquitetura atual e em paralelo fazer um comparativo geral sobre ela e os valores que o ser humano emprega hoje em dia em sua própria vida.
Ao meu ver parece lógico confrontar a arquitetura com o modo de vida da atualidade, mas será que estamos satisfeitos com este modo de vida? Será que as construções que vemos atualmente é o melhor que podemos fazer? Novamente devemos nos questionar em relação a isso.
Se você fizer uma breve pesquisa sobre as tendências do futuro da arquitetura, logo verá as palavras: sustentabilidade, tecnologia das coisas ou iot, tecnologia unida a criatividade, inovação por design, entre outros. Estas ferramentas podem ser de uma grande serventia para os seres humanos, porém há diversos caminhos e finalidades para serem utilizadas.
 
“Brincamos internamente que se não somos capazes de separar nosso próprio lixo como poderemos tratar de sustentabilidade? De modo que este termo não pode ser apenas um marketing ou uma tendência do momento, mas devemos viver com coerência em relação ao que queremos de fato para o futuro”
 
A tecnologia das coisas é algo promissor que pode ser apresentado como uma grande revolução do modo de vida, tanto pelo lado positivo quanto pelo negativo, tendo neste último caso como exemplo o grande sucesso de audiência do Netflix “Black Mirror”, que chama nossa atenção por abordar a influência e os impactos dos avanços da tecnologia em um futuro distópico. A inovação pelo design e a criatividade aliada a tecnologia já vem mostrando sua promessa com o intuito em atender as diferentes gerações que possuem exigências bem específicas. Um exemplo disso é a Geração dos Millennials – Nascidos dos anos 80 até os anos 2000 – Possuem a expectativa de ter informações e entretenimento disponíveis em qualquer lugar e à qualquer hora. Compartilhamento de espaços, design e tecnologia são exigências desta geração que representa mundialmente 50% da população. 
 
      Estamos habituados a dizer que a arquitetura impacta a vida da coletividade, e realmente isso acontece, mas muitas vezes não nos damos conta de que também são os nossos próprios valores e atitudes diante da vida que direcionam o caminho da arquitetura e do mercado. O nosso modo de vida, as nossas ações, os nossos pensamentos e sonhos definem o que está por vir, e não necessariamente o contrário.
Este é um ponto de vista geral, pois a arquitetura atua em várias escalas, desde o projeto de interiores até projetos de grandes espaços públicos e até cidades. O arquiteto não é responsável sozinho pela arquitetura, mas sim a sociedade organizada na qual nos inserimos.
 
      Os problemas que ocorrem em relação ao meio social, ao urbanismo e as cidades são fruto principalmente de uma desorganização política.
Política é um veículo de atuação da justiça, valor esse também intrínseco do ser humano. Justiça não se trata necessariamente de igualdade, e sim de equidade.
Um dos principais problemas da sociedade, desde a escala municipal até a mundial, é a má distribuição de renda. Mas lutar por uma igualdade de direitos, ao meu ver, nem sempre é uma solução, é preciso olhar a coisa por outros olhos. Justiça é dar ao ser humano aquilo que lhe é de direito segundo a sua natureza. As pessoas são diferentes, vivem em lugares diferentes com culturas, costumes e modos de vida diferentes, e cada um tem sonhos e desejos próprios.
Equidade trata-se, portanto, da adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se os critérios de justiça. Pode-se dizer, então, que a equidade adapta a regra a um caso específico, a fim de deixá-la mais justa.
Por isso, na minha concepção, tantos programas sociais não dão certo, resolvendo apenas a necessidade de uma parte da população, e muitas vezes surgindo até problemas secundários.

 

            

 

      Resolver a questão da cidade é algo muito complexo, mas falar de atualidade é falar de futuro.
Arquitetos são por natureza visionários e sonham com um mundo novo e melhor, muitas vezes isso ocorre de forma utópica, pois é preciso construir algo consistente, com efetividade, justiça, bondade e beleza, atendendo as necessidades próprias dos seres humanos, só que o que ocorre no cenário da política são medidas e ações interessadas a mudar a realidade de poucos e não de um bem comum.
“Pensar globalmente e agir localmente”, famosa frase do sociólogo alemão Ulrich Beck que caiu em domínio público, é uma verdade que, embora pareça ilusão colocar essa ideia em prática, ela representa uma saída para minimizar problemas e impactos sociais e ambientais, pois se cada indivíduo ou grupo fizesse a sua parte aos poucos o ideal tornaria uma realidade. Essa ideia seria muito bem empregada se não fossemos tão imediatistas, ainda mais levando em conta a velocidade do processo de globalização, dos meios de comunicação e o bombardeio de informação que aceleram, e as vezes deturpam o sentido de vida da coletividade.
 
      A arquitetura funciona como uma simbiose entre os diferentes organismos da cidade, como conectores sociais, mediando a relação entre a sociedade e o território.
Representa um grande desafio, pois há cada vez mais pessoas no mundo e nem sempre o desenvolvimento das cidades acompanha e fornece suporte para este crescimento desordenado. O desafio é mover a engrenagem, integrar as novidades de demanda da população, recursos disponíveis, o boom da informação e tecnologia, tudo isso respeitando a integridade dos seres humanos e suas relações.
Portanto, em linhas gerais, a ideia que está sendo proposta é que a arquitetura é um espelho do nosso modo de vida, em vários graus, e nós como indivíduo e coletividade somos também responsáveis pelo que está sendo produzido e sobre o futuro que queremos. A arquitetura do passado é conhecida, e teve seus períodos cíclicos.
 
Em qual período estamos agora e o que sonhamos para o amanhã? Para finalizar gostaria de compartilhar uma ideia de Paulo Mendes da Rocha, um dos principais nomes da arquitetura brasileira e mundial que disse: “um verdadeiro arquiteto deve ser, mais do que um especialista em uma área específica, um pensador da sociedade e da condição humana”.
 

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